A Guerra dos Seis Dias (5 a 10 de junho de 1967) terminou com uma vitória esmagadora de Israel, fazendo com que aumentasse o sentimento de supremacia militar, acompanhado por um desdém pela capacidade militar dos exércitos árabes.
Dado que Israel não tem “profundidade estratégica” (áreas onde pode lutar sem expor seus centros populacionais e sua economia), foi construído um elaborado sistema de inteligência que deveria fornecer aviso prévio em caso de uma guerra iminente. Esse sistema era de fato sofisticado e proveu informações sobre os preparativos do Egito e da Síria para a guerra, mas essas informações não foram devidamente traduzidas num alerta sobre um conflito próximo e, assim, o sistema falhou em sua diretriz principal.
Os chefes dos serviços secretos mantiveram a sua posição de que “a probabilidade de guerra é extremamente baixa”, mesmo diante de fatos como: a observação dos preparativos no terreno de guerra; o Rei Hussein da Jordânia, que se encontrou com Golda Meir e comunicou o intenção do Egito e da Síria de atacar Israel; o relatório de um agente que ocupou um cargo sênior no Egito e se reuniu com os chefes da inteligência israeli.
Foi apenas na manhã de Yom Kippur, em 6 de outubro de 1973, que foi confirmado de que naquele dia o ataque começaria. Assim, o governo decidiu mobilizar as forças de reserva às pressas. Porém, antes de serem mobilizadas, a guerra começou. A questão da falha da inteligência e do despreparo das Tzahal foi referida pelo público após a guerra como “A Negligência” (המחדל).
Por que o Estado de Israel ficou surpreso quando a Guerra do Yom Kippur começou? Existem várias respostas para esta pergunta:
– Israel sentiu que estava numa posição de força contra os países árabes e subestimou sua capacidade militar.
– O fracasso do sistema de inteligência – Israel construiu um elaborado sistema de inteligência que não forneceu um aviso oportuno.
– A crença de que a linha de fortificações (“Linha Bar-Lev”), baseada em fortalezas construídas à beira do Canal de Suez, combinadas com unidades blindadas, aguentariam um ataque egípcio.
– Os egípcios disfarçaram os seus preparativos para a guerra e tomaram medidas enganosas para esconder as suas intenções.
As Tzahal conseguiram, apesar da surpresa e das difíceis condições iniciais, partir para o ataque e mudar o curso do conflito: ao final, uma vitória israelita evidente em todas as frentes, quando as Tzahal avançaram até 40 km de Damasco e a 101 km do Cairo.
Ainda assim o preço da guerra foi extremamente pesado: 2.656 mortos, 7.251 feridos, 301 prisioneiros, dezenas de desaparecidos, perdas em aviões e tanques, bem como um alto preço econômico.
A sensação e a plena fé no conceito de segurança foram prejudicadas: estes passaram a ser sujeitos a um escrutínio público contínuo. Movimentos de protesto públicos aconteceram e parte de seus membros era de oficiais e soldados que retornaram da guerra. Era difícil lidar com o luto, com a questão dos presos e dos desaparecidos. Estas questões dolorosas tornaram-se centrais para o público israelita. Além disso, também foi perdida a confiança numa série de figuras públicas das fileiras militares e políticas – principalmente no Ministro da Defesa, Moshe Dayan.
Foi criada uma comissão estatal de inquérito – o Comitê Agrant – que investigou os fracassos da guerra e suas conclusões foram dirigidas contra o escalão militar: o Chefe do Estado-Maior, Tenente-Coronel David Elazar (DADO), foi forçado a demitir-se e vários oficiais superiores da Divisão de Inteligência e do Comando Sul foram exonerados.
Além disso, o Comitê absolveu o escalão político da responsabilidade pelos fracassos da guerra, mas o movimento de protesto contra o governo levou à demissão do Ministro da Defesa, Moshe Dayan, seguida pela demissão do governo Golda Meir. As contínuas críticas públicas ao governo abriram caminho à convulsão política de 1977, quando o partido Likud chegou ao poder liderado por Menachem Begin.
Na sociedade israelita, a polarização cresceu entre aqueles que apelavam a um aumento do controle de Israel sobre os territórios conquistados, através de estabelecimento de colonatos em grande escala, e aqueles que apelavam a concessões territoriais significativas aos árabes em troca de um acordo de paz.
Devido ao elevado custo da guerra em armas e aos pesados danos econômicos, aumentou a dependência de Israel da ajuda militar, econômica e diplomática dos EUA.
A guerra abriu o caminho para a paz com Egito
Israel reconquistou e assegurou amplos territórios no Sinai e ambos os lados mostraram vontade de entrar em negociações de paz. Esta vontade levou à histórica visita do presidente Anwar Sadat a Israel em novembro de 1977, para as negociações prévias e, depois, à assinatura dos Acordos de Camp David entre Israel e o Egito, em 1979.
Além da vitória militar, a falha da inteligência, as perdas em vidas e a derrota moral foram muito profundas, marcando e mudando a sociedade israelense e o país para sempre. Os valores básicos da sociedade, tais como a crença na liderança política e militar, foram minados e colocados à prova. A sociedade e o país nunca voltaram aos dias de euforia e unidade anteriores a esta guerra.